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quarta-feira, 26 de março de 2014

Crise do Cão Medroso

Ao observarmos um cão urinando nos cantos ao chegar em um determinado local, a fim de demarcar o seu lugar, seu território, chegamos a rir da inocência do animal em crer que nada irá invadir seu domínio e que a partir dali, estará tranquilo para descansar.
Na verdade, nós não fazemos muito diferente disso ao observarmos uma casa, ou mesmo seu ambiente de trabalho. Muitas vezes, verificamos que existem pessoas que modificam as coisas de lugar e colocam sua contribuição ao longo de todo o ambiente de trabalho sem ao menos se perguntar, quem foi que organizou ali e qual foi a lógica utilizada para tanto.
Ao parar para refletir sobre o ambiente em que nos encontramos, e tentar entender a mente do outro e sua forma de se expandir no meio, quase sempre encontramos uma lógica, às vezes egoísta e as vezes altruísta.
A lógica altruísta é daquela que organiza o meio em que se encontra para o convívio de todas. Dentro do lar, é aquela pessoa que sabe quanto de sabão em pó se utiliza toda semana, quanto de detergente, quanto de produtos de limpeza ou mesmo de alimentação, entendendo todos os demais elementos que constituem seu ambiente de trabalho ou lar. Esse indivíduo costuma organizar prateleiras e mesas de modo que os itens mais utilizados por si mesmo e pelos outros, fiquem sempre à frente, e fáceis de serem utilizados, evitando transtornos, e por trás ou por cima, sempre aqueles que pouco se utiliza.
Já o indivíduo egoísta conhece apenas o uso de seus utensílios preferidos e por isso mesmo, fazem uma organização do meio quase sempre, maravilhosa visualmente falando, ou as vezes nem tanto, mas sempre pouco funcionais para os outros indivíduos da casa. Viver numa casa ou escritório organizada por ambientes egoístas, é ter de remover itens essências de caixas, ou no fundo de prateleiras, usando escadas, ou mesmo retirar panelas e panelas pra utilizar  uma simples frigideira, ou remover pilhas de papeis para conseguir alcançar as canetas no fundo da gaveta. 
O ambiente altruísta é lógico e estável, você sempre consegue encontrar os itens essências sem dificuldades, eles dificilmente mudam de lugar se não estiverem em uso, já no ambiente egoísta é mutável e ilógico. Quase sempre misturado e sem ordenação, e muda de lugar o tempo todo, fazendo com que os outros indivíduos sempre dependam do organizador para encontrar tudo.
Além de tudo isso, o ser humano agrega o que eu chamo de "a crise do cão medroso". 
A tal crise, refere-se aos indivíduos que morrem de medo de perder-se no seu tempo/espaço e por isso, utilizam-se do meio em que vivem (trabalho ou moradia), para se encontrar, fazendo com que cada pedacinho do ambiente seja constantemente organizado por ele mesmo. A pessoa chega em uma sala e mexe nas revistas, arruma um quadro, prova a cadeira, e observa tudo, para tornar o ambiente familiar quando nos referimos a um escritório estranho, onde não haverá convívio perene. Já no caso de uma mudança de sala ou escritório (ou de casa), por exemplo, veremos que a pessoa sempre organizará a casa à sua maneira, desde os itens mais simples e pequenos até os maiores e mais espaçosos.
Para o último indivíduo, quase sempre de lógica egoísta, não adianta a família ou colegas de trabalho modificarem o espaço e explicarem seus motivos. Quando tudo parece certo, o individuo tem uma crise de insegurança disfarçada, e começa a mudar tudo de lugar como se fosse dono de tudo, e como se os outros não tivessem vez em sua vida. 
Internamente, esse individuo tende a não encontrar seu espaço no mundo, sente-se frustrado ou inconveniente, as vezes pode estar infeliz com suas próprias conquistas, e o significado delas para si mesmo, e com isso, expande sua necessidade para o ambiente, organizando e dominando. Quase sempre, esse individuo consegue encontrar culpas nos outros e no ambiente para suas frustrações, e nunca consegue culpar a si mesmo pela falta de conquistas ou pelo que não deu certo. É o mesmo cão medroso que demarca o território para chamar de seu e descansa em paz por um tempo, sem medo que outros tentem dominar o que julga ser seu. 
O problema é que o xixi nos móveis não irá fazer com que os outros cães tomem o seu espaço ou comam do seu pote de comida. O mesmo é válido para o ser humano. Há sempre que se levantar a bandeira do amor ao próximo, e observar os interesses de todos antes de impormos a nossa personalidade ao ambiente, mesmo porque alguém pode gostar de preto enquanto outro, gosta de vermelho, alguns preferem um ambiente claro, outros preocupados como o envelhecimento do piso, podem preferir o ambiente claro em certos horários do dia e escuro em outros.  Até os produtos de limpeza utilizados é algo que deve ser feito coletivamente, pois o cheiro é relativo ao gosto e a problemas de saúde, o tipo de produto é relativo ao objetivo de uso, e assim em diante, podemos enumerar quantidade, qualidade, custo/benefício.
As vezes um problema de saúde faz com que um individuo prefira um ambiente menos gelado, enquanto outro, prefere outro congelado, e  ambos terão de compartilhar o mesmo lugar, então que tal procurarmos sempre um meio termo.
No ônibus, no carro, no escritório ou em casa, temos sempre de observar o ambiente, e expandir nossa personalidade participando com os outros na criação de um meio mais agradável a todos. 
É o caso das pessoas que ouvem música sem os fones de ouvido nos ônibus, daqueles que mudam as coisas de lugar quando querem, ou daqueles que ficam inquietos na sala do médico não por ansiedade, mas porque precisam tornar o ambiente familiar e sentir-se mais agradáveis, ou daquele vizinho inconveniente que para o carro de som em frente à sua casa não se importando com horário ou gosto pessoal.
O amor e consideração ao espaço do nosso próximo, cura tudo isso, pois nos faz observar os outros e a nós mesmos de uma forma diferente através do diálogo.
E não é esse o maior problema do ser humano atualmente ???

Texto elaborado em 26/03/2014 por Marco Antonio Zaniboni